A exposição [Negra Arte Sacra] celebra e reverencia os 75 anos de história e resistência do Axé Ilê Obá, uma das mais importantes casas de Candomblé e resistência à intolerância religiosa em São Paulo. Além de celebrar seu legado e homenagear a luta dos ancestrais do primeiro terreiro de candomblé tombado no estado de São Paulo (1990), hoje encerrado por Mãe Paula de Yansã (na imagem), a exposição convida o público a reflexão sobre a importância da arte sacra afro-brasileira na construção da identidade cultural do país. Em 1990, após um trabalho incansável de Mãe Sylvia de Oxalá, o Axé Ilê Obá foi reconhecido como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT, um feito que marcou a preservação da memória das casas de Candomblé e da cultura afro-brasileira na capital paulista. Ao longo de quatro dias, a exposição dará voz e visibilidade a artistas que, por meio de suas obras, dialogam com a arte sacra, e ao mesmo tempo com as lutas de resistência negra. Esses artistas não apenas reinterpretaram os símbolos religiosos, mas os carregaram de novos significados, reverenciando a cultura afro-brasileira e criando um elo direto com a história das religiões de matriz africana no país. Dia 10/4, vernissage, mensagem de Yalorixá Mãe Paula de Yansã e apresentação de vídeo-performance de Rosana Paulino; dia 11/4, portas abertas das 10h às 21h; e mesa de debate com os acadêmicos: Joaquin Terrones – MIT, Patrícia Santos Teixeira – UNIFESP e Renata Melo Barbosa – UNB, às 19h; dia 12/4, portas abertas das 10h às 21h; e mesa de debate com artistas: Damaze Lima – Artista plástica, Marcelo d'Salete – Quadrinista e professor, Monica Ventura – artista plástica e Sheila Ayo – artista plástica, às 19h; dia 13/4, portas abertas das 10h às 21h; e concentração para o cortejo de maracatu com o grupo Caracaxá, às 15h.
O ANIVERSÁRIO DA VACA
Meus 15 anos de idade.
Ganhei um maldoso presente
Por parte da humanidade
Foram 15 anos servindo
Humanos de toda sorte
Também parí e alimentei
Muito bezerro de corte
E para os humanos também
Alimentei seus filhotes
Comia um verdinho tranqüilo
Pensando na minha sorte
Chegaram uns homens de botas
Vieram numa pick up
Laçaram-me pelo pescoço
Jogaram-me num apertado
Fiquei sem água três dias
Comida eu nem te conto
Dormi numa laje fria
Deitada no mesmo ponto
Um dia vieram os homens
Levaram-me para um rodeio
Cai no meio da grama
Sem forças no entremeio
Tonta sem entender
Senti muitos pontapés
Senti uma corda nos chifres
Queriam-me pôr de pé
Sem forças pra levantar
Arrastaram-me no solo árido
Senti a carne rasgando
Senti meu chifre torado
Sangrando e dolorida
Ainda tive meu couro chutado
Pauladas por toda parte
E a dor do chifre quebrado
Doutor, que tudo isso
Não saia deste quadrado
Não quero justiça nem nada
Perdoo os acusados
Só penso no meu verdinho
Ao lado os bezerrinhos
Dar leite aos pequeninhos
Voltar para o meu banhado